segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Guardar para Perder

Normalmente, a gente guarda algo para não perdê-lo, não é? Porém, frequentemente a maneira mais comum de se perder algo é guardando-o. Explico.

Pense naquela peça de roupa preferida e que hoje, por motivos diversos, não lhe serve mais. Você ficou mais gordo, mais magro, mais alto etc. Aí, você deixa lá pendurado no guarda-roupa na esperança de que um dia você volte a usá-la.

Na verdade, você já a perdeu e não se deu conta, porque o que você não está mais usando – eu diria, vivenciando – você já perdeu. Está no campo da saudade – a idealização passada – ou da ilusão – a idealização presente.

Você tem o que você vive, vivencia. O que você guarda, você perde. E isto vale para coisas, pessoas, conhecimento, experiências, emoções, sentimentos... Enfim, vale para a vida.

A esperança que algo guardado volte a ser usado ou vivenciado não é esperança, porque esperança move a gente para a frente e não para trás. Motiva. Motiva a ação. Motivação. O que nos não nos mobiliza, nos imobiliza. E a esperança não imobiliza.

Então, se não é esperança de usar e vivenciar novamente, o que é? É uma angústia mal disfarçada. A angústia da perda que não se quer assumir, que não se deseja viver. É a angústia da despedida. E eu posso lhe garantir: perder o que se ama e o que se quer, dói muito!

Eu já me peguei pensando no que faria se ficasse milionário de uma hora para outra. Curiosamente, entre outros “sonhos” – como fazer diferença nas vidas de pessoas sem fé e esperança eternas, viajar bastante, aprender novas línguas e culturas e ser um mecenas para viabilizar os sonhos de outras pessoas tão talentosas e capazes, mas infelizmente sem oportunidade e incentivo – eu também me vejo eventualmente trocando as peças do meu vestuário.

Imagine só. Abrir a porta do guarda-roupa e tirar todas as peças e ir ao shopping e comprar tudo novo! Só que eu não sei se eu realmente faria isto – não apenas pela futilidade que tal iniciativa representaria diante de urgências e necessidades muito mais prementes, tanto minhas, como de outros, – mas porque tem umas camisas que já tem meu cheiro e meu jeito. Eu as guardo e não as trocaria por nada, mesmo que eu as use muito pouco.

No fundo, eu não quero perder e por isso, eu as guardo na esperança de re-vivencia-las. Lêdo engano! A angústia de perder pode ser substituída pela alegria de viver!

Penso que este é o significado existencial – permitam-me os teólogos isar de tal liberdade hermenêutica – embutido nas palavras do Nazareno quando disse: "Porque aquele que quiser salvar – poderia ser ‘guardar’ a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á".(Mateus 16:25).

Com carinho,
Robinson Grangeiro Monteiro

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